quinta-feira, 20 de maio de 2010

Entrevista com J.R.Duran -Realizada pela revista: Photos

Hoje Duran é um exemplo para todos os fotógrafos. Humilde – “não me vejo como ícone, pois trabalho sete dias por semana” –, dedicado e acima de tudo competente, está sempre em busca de novos desafios profissionais. Não satisfeito em ter chegado perto de meninas como Carla Perez, Tiazinha, Feiticeira, Scheila Carvalho e Luma de Oliveira, entre outras beldades, procura aventuras, como participar do Rally dos Sertões ou fotografar a guerra de Angola – sim, ele trocou o conforto do estúdio e trabalhos bem mais amenos pelas asperezas do front angolano –, além de publicar uma revista, a Freeze, só com imagens. Um pouco da carreira bem-sucedida desse espanhol que trocou Barcelona por São Paulo em 1970, suas influências e seus projetos pessoais estão nesta entrevista, que ele concedeu a Photos & Imagens:

Photos - Como você se sente como um dos mais importantes fotógrafos do Brasil? Você se considera um ícone?
J.R.Duran - Não me vejo como ícone, porque trabalho sete dias por semana, chego aqui no estúdio todos os dias às nove da manhã e não tenho hora para sair. Acho que se eu fosse ícone, acordava bem mais tarde e a vida seria totalmente diferente. Acredito que esta seja a resposta para tudo: acordar cedo todo dia para fazer um trabalho que me dá prazer.

Photos - Que tipos de trabalho você faz no estúdio?
J.R.Duran - Os trabalhos são os mais variados possíveis, sendo que cada um deles representa para mim um desafio – e é o que faz a coisa ficar interessante. Posso dizer que divido meus trabalhos em três categorias: os retratos, que podem ser moda ou publicidade, em que a personalidade de cada pessoa é diferente; a publicidade – quando o fotógrafo vira mediador entre os desejos da criação e do diretor de arte e os anseios do cliente – e as fotos de nu, que são geralmente ensaios de personalidades. Na verdade, essas categorias se juntam no dia-a-dia, não havendo uma separação entre elas.

Photos - É você quem faz todos os trabalhos aqui do estúdio ou têm assistentes que te ajudam?
J.R.Duran – Tenho dois assistentes de estúdio, dois assistentes de coordenação e os free-lancers, que são contratados à medida que os trabalhos vão aparecendo.

Photos - Como a fotografia surgiu na sua vida? Você teve contato com a profissão desde criança, tinha parentes que trabalhavam nisto?
J.R.Duran – Quando eu tinha 20 anos, uma prima que tenho em Barcelona casou-se com um super fotógrafo catalão-espanhol. Achei-o uma pessoa muito interessante. Foi ele quem me despertou para essa profissão, para a figura do fotógrafo. A fotografia é uma das poucas profissões em que a personalidade do profissional acompanha a produção e resultado do trabalho. Isso eu aprendi logo de cara, quando o conheci. Além disso, há 25 anos, a fotografia era um meio muito fácil e rápido para chegar perto das meninas. E eu não tenho vergonha de confessar isso: comecei a ser fotógrafo para chegar perto das meninas bonitas. Com o tempo, a coisa foi dando certo, fui tendo interesse genuíno pela profissão, virei fotógrafo e o mundo perdeu um playboy, graças a Deus!

Photos - Você já morava aqui no Brasil?
J.R. Duran – Quando comecei a usar a fotografia como artimanha de aproximação das mulheres bonitas não, isso foi em Barcelona. Quando cheguei ao Brasil, trabalhava como estagiário – o 4º ou 5º assistente - num estúdio à tarde, porque de manhã estudava. Lá, a profissão foi tomando outro rumo, fui me aperfeiçoando mais e a fotografia foi tomando proporção e consistência.

Photos - Você é espanhol. Por que veio para o Brasil?
J.R. Duran – Meus pais mudaram para cá em 1970. Já tínhamos parte da família aqui e eu achei ótimo. Imigramos de Barcelona para São Paulo.

Photos - Como foi sua trajetória profissional – você começou como estagiário, foi tomando gosto pela coisa, fez curso superior?
J.R. Duran – Fiz Comunicações na Faculdade Anhembi. Eu queria ser jornalista, ser fotógrafo, e à medida que ia trabalhando, ia ficando fascinado e tinha em mente que queria fotografar mulheres e pessoas. Nesta época, eu estava em um estúdio e fotografava carros, decoração, de tudo um pouco. Saí deste emprego, pois queria atingir meus objetivos: fotografar pessoas. Troquei de emprego duas vezes, nas duas para ganhar menos, mas para fazer o que queria.

Photos - E por que fotografar pessoas?
J.R. Duran – Não sei. Sempre me fascinou este desafio e acho que a influência do cinema ajudou muito: fotografar a figura humana. Mas não sei o motivo.

Photos - Durante sua carreira, você trabalhou com pessoas que te marcaram profissionalmente, te ajudaram, te mostraram um caminho ou não, ou você foi autodidata?
J.R. Duran - Acho que fui muito autodidata. Sempre fui um observador e quem me ajudou muito foram meus concorrentes. Estava observando os acertos e erros deles, respeitando sempre a concorrência, mas os grandes incentivadores do meu trabalho foram os caras que eram meus concorrentes. Quando eu comecei, digamos, era o último da lista dos fotógrafos. Mas, em algumas situações, ao invés de ficar com raiva de um fotógrafo bem-sucedido ou ficar ressentido, eu olhava e analisava como tinha sido o caminho daquela pessoa, seus erros e acertos, tentando visualizar como eu poderia fazer para ter uma boa carreira. E não era só isso, de ter uma carreira constante, acho que é uma coisa meio filosófica – e eu sou um pouco filósofo: a vida tem um sentido, um formato e nós temos que saber surfar nela. Aproveitar os momentos bons e esperar os maus passarem. Tem que ter esta sintonia – lidar com a ansiedade, ter auto-crítica para assumir que fez algo ruim e fez algo bom. Não podemos nos enganar achando que só fazemos coisas boas e interessantes. Isso vai nos depurando, vai nos tornando mais amadurecidos.

Photos - Existe um estilo, uma marca J.R. Duran de fotografar?
J.R. Duran – Não sei. Não me preocupei com isso. Há duas maneiras de ver essa questão da marca: a objetiva, que passaria por um tipo de luz, um formato, um truque técnico que você possa usar, e uma mais subjetiva. Eu, como detesto usar qualquer tipo de truque, uso as câmeras do modo mais simples possível. Acredito que o que sempre me preocupou foi ser irreverente e desaforado. É isso que tento passar nas minhas fotos: irreverência, brincar com a intenção. Uma coisa é o que a gente vê e outra é a intenção. Tento sempre ter essa intenção de brincar com a pessoa que está na minha foto.

Photos - Como você consegue puxar isso, essa irreverência, da pessoa que está sendo fotografada?
J.R. Duran – Eu sou um cara irreverente, desaforado. Então, basicamente quando fotografo, eu sou apenas eu mesmo, sem qualquer tipo de barreira. Isso às vezes me ajuda e outras causa problemas. Não consigo agradar a todo mundo. Para muitas pessoas que conseguem entrar nesta brincadeira, nesta cumplicidade e confiança com o fotógrafo, é ótimo, uma maravilha. Nunca forcei ninguém a fazer coisas que não quisessem, mas sempre propus coisas que nunca tinham feito. Às vezes, as pessoas aceitam, outras não. Isso para mim não tem muito problema, pois tenho um arquivo de caderninhos que vou anotando coisas e idéias, que se não for hoje, pode ser amanhã. Sempre tento puxar os limites, dentro do padrão de bom gosto e qualidade.

Photos - Você tem uma linha de trabalhar, nega ou aceita um tipo específico de trabalho?
J.R. Duran – Já fui mais rigoroso. Hoje em dia, aceito cada vez mais desafios. Outro dia fotografei um homem (pela primeira vez, em condições mais íntimas) para a revista TPM (Trip para Mulheres). Foi o Rodrigo Santoro. Nunca tinha feito, porque não tinha tido oportunidade. E foi um desafio para mim. Foi interessante. Ano passado (a entrevista foi publicada em 2001), achei que tinha que provocar uns desafios para mim mesmo e fui para Angola, fotografar uma guerra. Eu mesmo provoco em mim esses desafios – às vezes, muitas pessoas me propõem trabalhos absurdos e sempre avalio: “Atrás deste absurdo pode estar um grande desafio e coisas muito interessantes”. Minha filosofia é essa, tento encaixar tudo na minha agenda.

Photos - E como é sua agenda?
J.R. Duran - Ela se faz e desfaz a cada 10 minutos. Quero dizer, não tenho agenda. Tenho, mas faço de tudo. Pouquíssimas vezes deixei de fazer alguma coisa por falta de tempo. Agora mesmo, fiquei 15 dias longe do estúdio para participar do Rally dos Sertões, pilotando um carro de São Paulo a Fortaleza. É claro que não pude fazer alguns trabalhos, pois eram neste período.

Photos - E como foi a experiência?
J.R. Duran – Foi ótima, foi a primeira vez. E isso entra em uma série de coisas que gosto e pretendo fazer. Há um ano comecei a pilotar helicóptero, fui cobrir a guerra em Angola, participei do rally, fiz um safári na Namíbia, na África.

Photos - Você tira férias? Como concilia o trabalho com essas atividades pessoais?
J.R.Duran – Como não tiro férias, essas atividades passam a ser meu descanso. Tiro 15 dias no final do ano, quando todo mundo pára, e depois misturo viagem com essas coisas. Tudo depende de uma oportunidade. A viagem para a Namíbia surgiu de uma reportagem que li quando voltava de Nova Iorque. Liguei e eles tinham uma viagem saindo justamente numa semana em que era feriado aqui em São Paulo. Aí eu fui. Tudo é fácil de conciliar, principalmente quando sábado e domingo passam a ser dias úteis.

Photos - Você mencionou que gosta de usar a câmera da maneira mais simples possível, mas usa algumas técnicas. Tem algum segredo?
J.R. Duran - Acho que não. A técnica é medir a luz, ajustar a câmera e fotografar.

Photos - Só?
J.R. Duran – Acho que só isso. Não tem filtros, não tem nada.

Photos - Você não usa?
J.R.Duran – Não uso, não sei usar. Tento reproduzir o que meu olho vê, enxerga. Tento fazer com que o fotógrafo desapareça. Apesar de ter essa coisa do desaforado, da intenção, tento fazer com que a personagem do fotógrafo desapareça. Quando tem muita técnica, a pessoa vê a técnica e não enxerga a foto. É uma opinião minha. Tento fazer com que aquela foto pareça o mais simples possível, com uma qualidade de câmeras complicadas.

Photos - Quais são suas câmeras?
J.R. Duran – Uma Pentax 6x7, grande e pesada. Mas tento usá-la de uma maneira que a foto e o resultado pareçam simples. É mais agradável para meu olhar.

Photos - Essa é uma câmera que você usa no seu dia-a-dia ou tem outras?
J.R. Duran - Uso no dia-a-dia. Mesmo quando fui para a Angola, usei esta câmera enorme.

Photos - Qual sua relação com a câmera?
J.R. Duran – A câmera fotográfica te dá passaporte para você ser aceito em todos os lugares. O fotógrafo é um cara curioso, que tem histórias para contar, mas que ao mesmo tempo atrai a atenção. Em Angola, na maioria dos casos, as pessoas tinham um certo prazer em serem fotografadas, por isso, acredito que a câmera quebre sempre muitas barreiras.

Photos - Ela inibe também algumas situações?
J.R. Duran - Acho que não. Existe uma coisa muito interessante, que de acordo com o formato da câmera, as pessoas têm um comportamento diferente. Se é uma câmera pequena, uma snapshot, as pessoas não se sentem intimidadas. Mas se é uma câmera grande, uma 4x5, até pelo fato de você operar o equipamento, fazendo com que seus movimentos sejam mais lentos, as pessoas ficam mais alertas, sabem que você vai fotografá-las. Eu uso uma câmera de médio formato, que posso usar de modo mais fixo ou como snapshot.

Photos - Você coleciona câmeras? O que você acha das digitais?
J.R. Duran – Não. Não tenho nenhuma atração por tecnologia, mecânica, essas coisas. Sobre as digitais, não acho nada. O fato é que as digitais resolvem problemas fotojornalísticos, de informação, e te dão rapidez. Mas como sou um cara interpretativo, a Pentax que uso tem um visual, a lente me dá um olhar que as outras câmeras não me dão. No dia em que as digitais me oferecerem esse mesmo resultado, eu troco, sem problemas.

Photos - Como foi a experiência na Angola?
J.R. Duran - Foi uma experiência interessante. Basicamente, queria provar para mim mesmo que conseguiria sobreviver, em dois sentidos: pessoalmente, num ambiente que não fosse controlado, num estúdio, com ar condicionado ou hotel cinco estrelas e fotograficamente também, num lugar que não tivesse maquiador e cabeleireiro e que eu pudesse voltar com fotos que tivessem algum significado.

Photos - Foi sozinho?
J.R.Duran - Fui só, mas fiz uns contatos lá, conheci umas pessoas e, obviamente, fiquei com guarda-costas, durante os 10 dias, que estavam armados 24 horas por dia.

Photos - Você dormia ao relento?
J.R.Duran - Um par de dias sim. Nos outros dias, dormia em Luanda, ia e voltava ao local onde estavam em combate. Eu tinha um contato nos comandos da guerra, aí visitávamos as áreas, os tanques, helicóptero do Exército angolano, essas coisas.

Photos - E por que esta viagem a Angola, por que fotografar a guerra?
J.R.Duran – Porque praticamente todos os fotógrafos que admiro estiveram na guerra. O Robert Capa , que foi o grande fotógrafo de guerra dos últimos anos, cobriu a 2ª Guerra Mundial e morou na Indochina, o Richard Avedon, que esteve na guerra do Vietnã, e o Alain Reinolds, que foi para Sarajevo. O Avedon, por exemplo, sempre fotografou em estúdio, com ar condicionado e estrelas de Hollywood. Acho que o contato com este tipo de vida te dá uma abertura muito maior para entender as pessoas, entender o mundo. Penso que o fotógrafo tem que se entender no mundo, não pode só fazer a capa de revista branca, com fundo branco e o ventilador nos cabelos. Mesmo que ele continue fazendo isto, tem que ter algo a mais. Por isso, essas aventuras, que envolvem muito planejamento, dão um diferencial no meu ponto de vista fotográfico.

Photos - No caso de Angola, seria uma pauta sua, para você mesmo?
J.R. Duran – Sim. São coisas que faço para mim mesmo, pautas que me dou e coloco na revista que eu tenho, que se chama Freeze. É uma revista de imagens apenas, sem anunciantes, sem palavras. São três mil exemplares distribuídos para amigos, conhecidos meus.

Photos - Como surgiu a idéia de fazer a Freeze?
J.R.Duran – Tinha este projeto em mente e o Roberto Casali, diretor da gráfica Litokromia, em São Paulo, comprou a idéia. Faz um ano que a revista existe e são três exemplares por ano. Eu entro com as fotos e as idéias e ele com a parte gráfica, fotolitos, tudo.

Photos - Para o fotógrafo, se pautar seria uma forma de estar em contato com temas que gosta de fazer e às vezes não tem oportunidade?
J.R. Duran – Não necessariamente. Ir para Angola, por exemplo, era uma coisa que eu faria de qualquer maneira e a Revista Freeze também. Durante muitos anos eu não me pautei. Aí, um dia decidi que me pautaria, pois para muitas coisas ninguém pensaria em me chamar para fazer – e a guerra em Angola é um exemplo disto. Eu gosto de viajar, sou um aventureiro. Não é que eu vá fazer isso a cada 15 dias, mas, de vez em quando, é interessante se permitir. Comecei com a Freeze há um ano e sei que não vou fazê-la por muito tempo. Vai chegar um dia em que vou achar que é um brinquedo. O importante é ter brinquedinhos sérios, que vão te ajudando em termos de luz, de trabalho, é uma maneira de se auto-checar o tempo inteiro, ver os resultados, testar novas coisas, fustigar a mim mesmo.

Photos - Que tipo de fotos você mais gosta de fazer?
J.R.Duran - Gosto muito de editorial e publicidade. Me sinto muito bem fazendo publicidade. Fiz recentemente uma campanha do Banco Real, que gostei muito. Eram vários clientes do banco, que foram fotografados na casa deles. Tinha um cara que jogava bocha e fui na casa dele no final de semana, fotografá-lo jogando bocha; o outro tinha um cachorro, o outro com filhos – gosto deste tipo de realidade. Faço a fotografia pensando em termos de fotojornalismo, apesar de não ser um fotojornalista. Mas sempre penso na questão da autenticidade e da realidade, pois não gosto de distorcer cores, não gosto de usar lentes distorcidas. Um amigo uma vez disse que eu gostava de ver a vida de perto – foi um elogio. Gosto de produzir a realidade e isso tem a ver com minha formação visual, desde quando tinha 18 anos. Eu cresci vendo muito cinema francês, que tem a ver com coisas mais despojadas da vida.

Photos - Fale um pouco sobre situações inusitadas pelas quais você tenha passado durante o trabalho.
J.R.Duran – A vida do fotógrafo é sempre uma improvisação. Ele está sempre na rua. E acho que sei me virar bem. Quando fui fazer o Rally dos Sertões, as pessoas estavam preocupadas onde eu ia dormir, se não tinha conforto, alguns lugares não tinha comida...e eu aprendi a me virar. Isso faz parte do processo de enriquecimento da vida, do dia-a-dia. E é isso que o fotógrafo precisa fazer, saber se virar em diversas situações. Planejar o máximo possível e o mínimo de coisas que estiverem fora de controle, resolva na hora.

Photos - Como são os trabalhos de nu que você faz?
J.R.Duran - Normalmente peço para todo mundo tirar a roupa. Eu faço um trabalho para a revista Playboy, da editora Abril, já faz muitos anos. Envolve cachês astronômicos e são eles que produzem tudo: eu chego na hora e fotografo. E também outros trabalhos de nu que faço, que peço para todo mundo tirar a roupa – umas tiram, outras não.

Photos - Como é a relação deste trabalho com as modelos – você disse que começou a fotografar para chegar perto das meninas bonitas...
J.R. Duran – Aquela época era diferente, ninguém tirava a roupa. Depois que parei de dar em cima das pessoas, e que a pessoa vê que não existe nenhum interesse pessoal, dupla intenção, absolutamente nada, as coisas ficam mais fáceis. É um trabalho totalmente profissional.

Photos - Quem foram seus ídolos? De que forma eles influenciaram sua carreira?
J.R. Duran – Como eu já havia citado, Robert Capa, Richard Avedon e o Alain Reinolds. Sempre pensei que precisava seguir o mesmo caminho que eles seguiram para tentar ver as mesmas coisas que eles viram. Mas isso não quer dizer que depois vou reproduzi-las, mas tenho que ter o mesmo conhecimento visual e de situações que eles tiveram.

Photos - Existe algum trabalho, uma foto especial ou uma fase na carreira que você considera mais importante?
J.R. Duran – Não tenho uma foto ou um trabalho, mas um conjunto de trabalhos, pois nunca penso numa coisa só. O importante são as próximas fases, o que passou, passou. Eu não olho muito para trás.

Photos - Há projetos para o futuro?
J.R. Duran - Estou preparando para 2002 uma superexposição e um super livro e isso é o que está me movendo agora. Tudo que fiz em Angola, muitos dos meus trabalhos vão estar lá. Minha idéia é colocar os três pecados capitais, que não são pecados, mas que formam o universo: o mundo, o demônio e a carne, ou seja, o sexo, a violência e o viver de perto. São situações estranhas, bonitas e perigosas, que envolvem vários tipos de universo, mas que estão entrelaçadas entre si. É possível explorar diversos mundos: desde fotografar a Cindy Crawford, a cidade de São Paulo, até estar no meio da África, vivendo uma outra realidade. Isso é que é a grande fascinação deste trabalho, ter esses contrastes, e, claro, sempre voltar com boas imagens. Esta exposição e o livro vão mostrar meu olhar de uma maneira como as pessoas nunca imaginaram que eu poderia ver as coisas. Já estou trabalhando no projeto há seis meses e, com certeza, será um desafio.